domingo, 20 de dezembro de 2009

Instituto da Cultura Árabe




Toda foToda forma de fé
Por Paulo Gabriel Hilu da Rocha PintoTorm
Toda forma de fé
Por Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto
Pensar que todo árabe é muçulmano é um equívoco recorrente ainda hoje. Os povos árabes do Oriente Médio ostentam um
Toda forma de fé

Por Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto

Pensar que todo árabe é muçulmano é um equívoco recorrente ainda hoje. Os povos árabes do Oriente Médio ostentam uma enorme diversidade de tradições e crenças cristãs, muçulmanas e judaicas. Os milhares de imigrantes sírios, libaneses e palestinos que desembarcaram no país entre o fim do século XIX e as primeiras décadas do XX contribuíram para ampliar a pluralidade religiosa na sociedade brasileira.Até meados do século XX, a imigração proveniente do Oriente Médio foi predominantemente cristã. Maronitas, melquitas, ortodoxos do rito antioquino, siríacos, católicos romanos e protestantes. A maioria dos libaneses era maronita, enquanto os sírios costumavam ser ortodoxos. Entre 1908 e 1941, 65% dos sírio-libaneses que entraram pelo porto de Santos eram maronitas, melquitas e católicos romanos, 20% eram cristãos ortodoxos e 15%, muçulmanos. Estes podiam ser sunitas, xiitas, alauítas ou druzos. Havia ainda imigrantes judeus de fala e cultura árabe.A preservação da identidade religiosa era importante para aqueles que permaneciam ligados à comunidade sírio-libanesa ou mantinham laços com o território de origem. Já no início do século XX, diferentes instituições religiosas começaram a ser criadas pelos árabes no Brasil. No início eram sociedades beneficentes, sociedades de senhoras e “centros de juventude”, para só depois inaugurarem seus locais de culto. A intenção era promover formas de solidariedade entre os membros e compartilhar suas tradições com as novas gerações. Os ritos e dogmas das igrejas orientais, no entanto, causavam estranhamento na sociedade brasileira, que pressionava os imigrantes árabes a adotarem as práticas do catolicismo romano.A comunidade ortodoxa foi uma das primeiras a criar instituições próprias no Brasil. Cristã, mas não católica, ela contava com recursos transnacionais da Igreja Ortodoxa Antioquina, cuja origem remete aos primórdios do cristianismo. Liderada pelo Patriarca de Antióquia, foi controlada por monges gregos até o século XIX, quando o surgimento dos ideais de nacionalismo entre os árabes levou à eleição de um patriarca dessa origem. Na mesma época, a Igreja Antioquina também estabeleceu relações com a Rússia, o que levou a um processo de renovação religiosa em língua árabe. Foi a casa real da dinastia russa dos Romanov que financiou, em 1917, a construção do primeiro templo ortodoxo do Brasil: a Igreja de São Nicolau, no Rio de Janeiro. Mas desde 1897 essa comunidade já possuía uma sociedade própria, em São Paulo. Hoje os ortodoxos se organizam em torno de dois arquimandritas (representantes patriarcais) – um no Rio e outro em São Paulo – com jurisdição sobre paróquias lideradas por padres em outros estados: Paraná, Goiás, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. A liturgia era inicialmente feita em árabe com trechos em grego, mas desde 1938 é celebrada em português, embora tenham sido mantidos trechos em árabe e grego e os cantos que a caracterizam. A adoção do português mostra a crescente importância da segunda e da terceira geração de descendentes de imigrantes.
A primeira Sociedade Maronita de Beneficência também surgiu em 1897, em São Paulo, e o templo foi erguido seis anos depois. A liturgia maronita se parece bastante com a dos católicos romanos, mas é conduzida com ritual próprio em português, com trechos em aramaico. Essa Igreja deriva da pregação de São Marun, que viveu no século IV na Síria. Como os cristãos ortodoxos perseguiam os maronitas como heréticos, eles se refugiaram no Monte Líbano e criaram sua Igreja a partir do século VII. Durante as Cruzadas, os maronitas entraram em contato com o catolicismo romano, e no século XV aceitaram a autoridade papal, preservando, porém, sua autonomia eclesiástica.
Os melquitas, também católicos, tiveram presença importante entre os imigrantes árabes desde o século XIX, mas demoraram a afirmar sua autonomia dentro do catolicismo brasileiro – sua primeira igreja, a de São Basílio, no Rio de Janeiro, seria erguida apenas em 1941. Desde então, surgiram templos também em São Paulo, Minas Gerais e Ceará. A palavra melquita vem do árabe maliki, que quer dizer “aquele [fiel] ao rei/imperador”. Este era o nome original dos ortodoxos, cristãos fiéis ao imperador bizantino. Após um cisma na Igreja Ortodoxa, no século XVIII parte do clero e seus fiéis aceitaram a autoridade papal, mantendo suas diferenças litúrgicas. Formou-se assim a Igreja Melquita, com sede em Damasco. As cerimônias melquitas são celebradas em português, com algumas passagens em árabe.
Outras comunidades religiosas menos numerosas também se organizaram na primeira metade do século XX, como os judeus sírios no Rio de Janeiro, os árabes protestantes em São Paulo e os cristãos siríacos (sirian) em São Paulo e Belo Horizonte.
Este artigo foi publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional, Edição nº 46, em julho de 2009. Esta é uma versão editada do texto.

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Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto é professor de Antropologia na Universidade Federal Fluminense (UFF) e coordenador do Núcleo de Estudos sobre o Oriente Médio (Neom/UFF).
A reprodução do artigo da newsletter do ICArabe é livre, desde que citados fonte e autor. Os artigos assinados e publicados aqui não necessariamente refletem a opinião do Instituto da Cultura Árabe.


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