segunda-feira, 6 de dezembro de 2010




Lançamento do livro:
De gestos lassos ou nenhuns (poesia)
de Thiago Ponce de Moraes
e do livro Nave de Ligia Dabul.
São Paulo, Lumme Editor, 2010.
Terça-feira, dia 7,
Às 18h, no Centro Cultural de Justiça Federal,
Av. Rio Branco, 241.
Rio de Janeiro.

Os poemas de De gestos lassos ou nenhuns são conscientes de que imaginar uma linguagem é imaginar uma forma de vida, à maneira de Wittgenstein, embora não se vinculem prontamente a qualquer pensamento filosófico a priori concebido. A busca que se verifica na travessia dos versos se dá na própria busca, o caminho se espraia no caminho em que as palavras dos poemas fluem. Os versos de De gestos lassos ou nenhuns, nesse sentido, enfatizam o colapso da linguagem, em que a escrita perde seus sentidos para tornar ao sentido de si, a seu caminho rumo a sua fonte, rumo a sua morada ou Ítaca [Ao acaso].
Em busca da linguagem do próprio poema, com que língua antiga hás de encontrar? [Decerto], que ora seca, ora floresce em sons e imagens; uma busca da sua própria origem, vertiginosa evidentemente por se encontrar no limiar da musicalidade dos versos, os poemas de De gestos lassos ou nenhuns culminam numa precisão notável, orgânica, de ponta a ponta. A sintaxe classicizante reforça o aspecto rarefeito do ambiente emque o poema nasce, Durando indiferente e com fissuras [Apocalipse 3:12]; o ritmo, ao mesmo tempo hostil e sutil, natural, visa à primeira pronúncia, a um fiat lux da gênese, em que o apuro sonoro e o entrechoque de imagens inaugurais coloca a leitura em perigo, abandona o hipotético leitor, deixa-o em apuros.
O trabalho com algumas estruturas de versificação findam por também revelar as ruínas de um reino que é sempre decadência e sempre fuga do próprio âmbito da arte. Assim, os poemas confundem com perícia a natureza com a natureza da escrita –Tua boca se abre, apenas uma palavra sangra/Enquanto passa o dia [Caligrafia] –, fazendo convergir sua dicção no momento oportuno – καιρός – pelas águas da pronúncia que se forja nessas páginas. Os poemas do presente livro dialogam com vasta tradição poética: de Hölderlin a Ricardo Reis e Rimbaud, de Celan a Wordsworth e Dante, numa conversação difusa e coesa que organiza as constelações de um modo peculiar e fundador como o ato simples da poíésis, em que os versos são capazes de fazer comungar num mesmo panteão Kaváfis, Shakespeare e Dickinson. Este é um livro cujo telos parece ser a busca de si próprio, como o é em toda grande poesia, e da forma que se ouve na máxima de Heráclito: Eu me busquei a mim mesmo.

Thiago Ponce de Moraes

é poeta e tradutor.
Faz parte do Conselho Editorial da revista Zunái e do jornal O Casulo.
Participou dos eventos literários Tordesilhas (2007), Simpoesia (2008 e 2010) e Artimanhas poéticas (2009 e 2010); organizou a Flap! Rio de Janeiro (2006, 2007 e 2008).
Tem publicações em diversas antologias e periódicos, com destaque para a Antologia Poetas Jovens (no papel rascunho), de 2006; Revista sèrieAlfa nº 33, de 2007; Antologia Vacamarela (trilíngue), de 2007; Antologia da Poesia Brasileira do Início do Terceiro Milénio, de 2008; Fomes de Formas, de 2008; e Revista Eutomia, de 2010.
Em 2006, seu primeiro volume de poemas, Imp., foi publicado.
Para breve prepara um novo volume de poemas: Celacanto; além de traduções de Emily Dickinson, Jeremy Halvard Prynne, Ralph Waldo Emerson, Hart Crane, William Wordsworth e Basil Bunting.


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http://www.thiagoponce.wordpress.com/

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