Lançado
O PÓ DAS PALAVRAS
de Claufe Rodrigues
3 poemas do livro:
APRENDIZADO
para meu pai
Caiu no mar tem que nadar
murmurava meu pai marinheiro
tirando um bagre do anzol
um cigarro do bolso traseiro
Eu, sabedor de nada
azeitava o eixo do sol
sonhando um dia conquistar
o meu lugar à sombra
E o mar era tão grande!
E a minha imaginação
tamanha
quebrava além da arrebentação
no redemoinho de uma música
estranha
Anda moleque, recolhe a rede
carrega o peixe pra tua mãe cozinhar
Era o pai me fisgando com o olhar
E eu seguia suas pegadas
pelos caminhos de areia
ouvindo as ondas a murmurar
como o canto de uma sereia:
Caiu no mar tem que nadar...
Caiu no mar tem que nadar...
para meu pai
Caiu no mar tem que nadar
murmurava meu pai marinheiro
tirando um bagre do anzol
um cigarro do bolso traseiro
Eu, sabedor de nada
azeitava o eixo do sol
sonhando um dia conquistar
o meu lugar à sombra
E o mar era tão grande!
E a minha imaginação
tamanha
quebrava além da arrebentação
no redemoinho de uma música
estranha
Anda moleque, recolhe a rede
carrega o peixe pra tua mãe cozinhar
Era o pai me fisgando com o olhar
E eu seguia suas pegadas
pelos caminhos de areia
ouvindo as ondas a murmurar
como o canto de uma sereia:
Caiu no mar tem que nadar...
Caiu no mar tem que nadar...
INTERROGAÇÕES
Você me pergunta
“o que é poesia?”
E eu tento explicar
com meias palavras
esta luz que amanhece do nada
na parede caiada de breu.
Será poesia o duende na mata
dançando com a mula mulata
e o padre judeu?
O vento que apruma
o cabelo da musa
e perfuma de encantos
o coração do plebeu?
O leite de cabra nos pomares de Eva?
O dente de cobra no pomo de Adão?
Obra e manobra, benção e maldição?
Inspiração, graxa na sintaxe?
O vôo do avião, o aceno de mão
o domingo no parque?
Posso afirmar
correndo o risco de me tornar petisco de crítico
que poesia é chuva que madruga
mandinga para ruga
o contrário de prosa
arte e navegação.
Negação.
Poesia é quando o ritmo reverbera
na vértebra do leitor
é quando dois corpos se encaixam
na engrenagem do amor.
Ou ainda, na berlinda, a poesia:
brinquedo para enganar o tempo
segredo para vencer o tédio
arremedo da infância
que um dia você esqueceu
na garagem do seu prédio.
ENCHENTE
Sou metade de tudo que já me aconteceu
a outra metade se perdeu
assim vou sendo sempre metade
a transbordar de vida nova
a cada enchente.
Eu sou a minha cidade
juntando os cacos
acidente após acidente.
Visite:
http://www.clauferodrigues.com/
No site as fotos do lançamento de O pó das palavras e também a primeira das dez músicas da série que vai ser postada, uma a uma, toda sexta-feira, no site (na primeira vez, tem que passar o mouse abaixo das figuras, onde aparecem os links).
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